sexta-feira, 12 de abril de 2013

No Princípio - Parte 6 - Origem da Vida

Tópicos acerca da Origem da Vida - Humanidade


Trataremos nessa postagem sobre a terceira curiosidade na parte cinco da série de estudos sobre o princípio.

Observou que o homem diz "Esta, sim" referindo-se a mulher que havia sido criada?

Antes de chegar à resposta desta curiosidade vamos entender algumas coisas que falam os textos que mencionam a humanidade.

Gênesis [1:26-28]; [2:7,15,18-23]; [4:17]: [5:3-4] e [6:1,2 e 4].

Leia todos, sem exceção, e vamos discuti-los.

Quando homem e mulher foram criados (Gn 1:26-28) lhes foi confiada a fertilidade e a responsabilidade pela multiplicação, povoamento e subjugação da terra. A grande questão é: eles praticavam a relação sexual nesta era? E a resposta é mais uma pergunta: que outra forma você conhece para multiplicar sua descendência? O texto é claro no que se refere a ordem de Deus a eles: "Sejam férteis e multipliquem-se! Encham e subjuguem a terra!". Então temos logo após o surgimento da humanidade a sua multiplicação. Perceba que após a fuga de Caim (4:17) da terra onde estavam Adão e Eva, ele mantém relações com sua mulher, engravidando-a, dando à luz a Enoque. Segundo o texto (5:3-4), Adão e Eva, só geraram filhas após ter nascido Sete. Então, que mulher era essa, já que Adão e Eva só tiveram filhas após gerar Sete, seu terceiro filho? Isso quer dizer que já existiam seres humanos na terra que não eram descendentes de Adão e Eva? Então, temos duas possibilidades:

I) Adão não foi o primeiro a existir, mas o primeiro de uma linhagem pura criada por Deus a fim de concervá-lo separado da maldade.
II) Adão foi o primeiro homem, mas Eva não foi a primeira mulher.

Vamos analisar com cuidado cada uma das possibilidades.


Adão não foi o primeiro ser humano

Farei um paralelo entre as traduções dos textos originais:

Gn 1:27
ויברא אלהים את האדם¹ בצלמו בצלם אלהים ברא אתו זכר² ונקבה³ ברא אתם
E Deus criou o homem¹ à sua imagem Deus o criou; macho² e fêmea³ os criou. (algumas versões apresentam 'homem e mulher os criou')

Gn 2:7
וייצר יהוה אלהים את האדם¹ עפר מן האדמה² ויפח באפיו נשמת חיים ויהי האדם³ לנפש חיה
E o Senhor Deus fez o homem¹ do pó da terra² e soprou em suas narinas o fôlego da vida, e o homem³ tornou-se alma viva.

Gn 2:18
ויאמר יהוה אלהים לא טוב היות האדם לבדו אעשה לו עזר כנודו
E disse o Senhor Deus: não é bom para o homem ficar sozinho, farei alguém que ajude no seu caminho.

Gn 2:23
ויאמר האדם¹ זאת הפעם עצם מעצמי ובשר מבשרי לזאת יקרא אשה² כי מאיש³ לקחה זאת
E disse Adão¹: Esta, é agora, osso dos meus ossos e carne da minha carne, ela se chamará mulher², porque do homem³ tomou.

A palavra האדם (Haadam/ homem / vermelho*/ barro**) é apresentado de três formas diferentes nestes textos. Como ser humano na primeira, gênero na segunda e terceira, e indivíduo na quarta. Na primeira fica bem ressaltado o significado porque a frente é discriminado dois gêneros, macho e fêmea. Na segunda vemos uma segunda palavra sublinhada por mim que é האדמה (Haadamah/ terreno ou terra). Desta ligação entre as palavras que surge a expressão bíblica "do pó viemos e ao pó tornaremos", pois a palavra Haadam é derivada de Haadamah. Assim como na terceira ele trata a palavra Haadam como gênero masculino, baseado no quarto texto onde a partir de Haadam é criado uma mulher. E, na quarta, trata-se do indivíduo Haadam que põe o nome da criação feminina de mulher. Note que da palavra איש (ish/ homem) é criada אשה (ishah/ mulher) dado pelo indivíduo Haadam, mostrando que Haadam agora é o personagem Adão.

Analisando os textos vemos que mesmo ultilizando a mesma palavra (Haadam) fica bem claro que em Gn 1:27 não se trata de Adão, mas do ser humano em geral, a não ser que o mesmo fosse andrógino (existe uma hipótese especulativa sobre isso). Reforçada tal ideia pelo fato que citamos anteriomente na descendência de Caim, visto que, Adão não gerou filhas antes do nascimento de Sete, período em que Caim já havia fugido e, provavelmente, estabelecido família. Então, Adão não foi o primeiro da espécie humana, mas o primeiro de uma linhagem criada, especialmente, afim de ser separado e cuidado por Deus. Por consequência Eva não foi a primeira mulher, já que foi criada a partir de Adão. Alguns, hipoteticamente, dizem que Caim teria voltado a terra dos pais e tomado uma de suas irmãs, levando-a e estabelecendo sua descendência. Porém, trata-se apenas de especulações sem fundamentação nos escritos como tentativa de eufemizar uma discussão sobre este assunto. 



Eva não foi a primeira mulher

Existe uma personagem que é mencionada apenas uma vez em toda a Bíblia (Cânon usual), seu nome é Lilith. No "folclore" hebreu medieval ela é tida como a primeira mulher criada por Deus junto com Adão, que o abandonou, deixando o Jardim por causa de uma disputa de igualdade de gêneros, passando depois disso ser descrita como um demônio. Segundo a interpretação da criação feita no Alfabeto de Ben Sirá - foi estudioso e escritor de vários textos, o mais conhecido deles é o Eclesiástico, livro deuterocanônico da Bíblia, estando presente apenas no Cânon católico - Lilith foi criada da mesma matéria de Adão, porém recusava-se a ficar em baixo na relação sexual. Segundo este manuscrito Ben Sirá descreve a passagem sobre Lilith a Nabucodonosor, rei da Babilônia. O grande problema é que este manuscrito relaciona-se ao século VI a.C. e o Eclesiástico ao século II a.C.. Por esse motivo o livro de Eclesiástico não pertence ao Tanakh (Cânon hebráco), o que levou a retirá-lo da coleção de livros sagrados da versão mais impressa da Bíblia, que contém 66 livros. Está estória é estudada detalhadamente nos conjuntos de estudos hebráicos conhecidos como Talmud e Midrash, uma éspecie de coleção de livros que formam uma ementa para seus estudos teológicos. Ela é citada no livro de Isaías, capítulo 34 e verso 14.

ופגשו ציים את איים ושעיר* על רעהו¹ יקרא אך שם הרגיעה² לילית³ ומעאה לה מנוח
E se reunirão frotas da(o) ilha/deserto com feras/peludos*, o outro¹ chamará por seu semelhante; e alí Lilith³ acalmará/pousará² e encontrará seu descanço.

Vejamos como está em outras traduções:

Nova Versão Internacional - Criaturas do deserto se encontrarão com hienas, e bodes selvagens balirão uns pra os outros; alí também descansarão as criaturas noturnas e acharão para si locais de descanso.

Almeida Corrigida e Revisada Fiel - As feras do deserto se encontrarão com as feras da ilha, e o sátiro clamará a seu companheiro; e os animais noturnos ali pousarão, e acharão lugar de repouso para si.

Almeida Revisada Imprensa Bíblica - E as feras do deserto se encontrarão com hienas, e o sátiro clamará ao seu companheiro; e Lilite pousará ali, e achará lugar de repouso pra si.

Sociedade Bíblica Britânica - As feras do deserto se encontrarão com as hienas, e os sátiros clamarão uns para os outros; a bruxa pousará ali e achará para si um lugar de descanso.

Versão Católica Pastoral - Nela se encontrarão cães e gatos selvagens, e os sátiros chamarão uns pelos outros; espectro noturno frequentará esses lugares e neles encontrará o seu repouso.

Estas versões estão disponíveis no site www.bibliaonline.com.br .

Em outras versões é substituído Lilith por coruja (ianshuf/ ינשוף).

Todo esse texto de Isaías (incluindo os versos anteriores e posterioes) reflete a visão negativa que se tinham de Lilith, carácterísta igualmente compartilhada pelos assírios que a tinham como um demônio. Historicamente, após Isaías, os hebreus foram conquistados pelos babilônicos, os quais adoravam a figura da deusa da noite Lilith. O que, possivelmente, acentuou ainda mais o sentimento negativo em relação a personagem. Também é mencionada como a serpente que tentou Eva. São feitas alusões diferentes em todas as versões como criatura noturna, animal noturno, bruxa e espectro noturno (fantasma). Só a versão ARIB traz o nome Lilite.

Esta estátua babilônica, encontrada em Terracota, é atribuída a Lilith. É datada de 2000 a.C. a 1500 a.C.. Note as corujas e hienas que estão ao seu lado descansando.

No texto que coloquei em hebráico e sua tradução selecionei alguma palavras que considerei importantes.

1) Esta palavra é traduzida como sátiro ou bode selvagem. Sátiro é um personagem da mitologia grega que é metade homem e metade bode. No texto hebráico a palavra רעהו (reauhu) é indefinida, mas refere-se as feras, como se uma fera ou animal peludo chamasse o outro semelhante a ela/ele.
2) Esta palavra tem tradução para acalmar e pousar (Hirguíauh), fato usado para algumas versões utilizarem coruja no lugar de Lilith na sua tradução. No folclore hebreu ela tinha asas, as quais foram usadas para fugir do Jardim.
3) É traduzida como criaturas noturnas, animais noturnos, bruxa ou fantasma. Tem versões gregas que traduzem como noite calma (Lilith Hirguíauh). Não sabe-se ao certo se é a palavra Lilith (לילית) que deriva-se de Noite (Lailah/ לילה) ou o contrário, mas a sua relação é clara. No Talmud e Midrash, e no folclore hebreu, esta relação contribui para o fortalecimento do estudo sobre esta hipótese.
*) Fera é sinônimo de peludo ou animal peludo.

Por causa da expressão "Esta, sim" ou no original "Esta, é agora"  é que relaciona-se o fato de Lilith ter sido criada junto com Adão relatado no texto de Gn 1:27. Porém esta espressão é uma brecha especulativa, pois contextualizando, refere-se ao fato de Deus trazer todos os animais criados para o homem lhes dar nomes, e não achando um ajudador para ele, cria o ser feminino que Adão chama mulher. Isso reflete a inferiorização feminina naquela época. Fato que, segundo Ben Sirá, Lilith não aceitou, e na época atual é símbolo do feminismo, mencionada como a primeira feminista.



Por causa do erro na datação dos escritos de Ben Sirá e por não ser considerado verdade pelos estudiosos hebráicos, a não ser como valor folclórico, anula-se o fato de Lilith ser a primeira mulher de Adão. Porém, não anula a existência do seu personagem tanto exterior quanto interior a Bíblia.


A conclusão que chegamos é que a hipótese mais coerente para a solução da problemática da muliplicação do ser humano na terra, que envolve também Caim e sua mulher, é que Adão não foi o primeiro homem, e nem Eva a primeira mulher, mas ambos os primeiros de uma geração especiamente criada por Deus para cuidarem e cultivarem o Jardim no Éden, e aprenderem de Deus a se guardarem da maldade.


Nas próximas publicações vamos falar sobre a queda da humanidade e sobre uma linhagem rara de homens, os Nefilins. Muito obrigado por ler. Se gostou ajude a divulgar compartilhando. Qualquer dúvida é só postar um comentário, ou me mandar um email: manoelrabelofilho@gmail.com. Se puder ser respondido será!

Um abraço a todos!

segunda-feira, 8 de abril de 2013

No Princípio - Parte 5 - Origem da Vida

Tópicos acerca da Origem da Vida

Perdoem-me pela demora em postar a parte 5, mas assim como Deus descançou ao terminar a sua criação abençoando o sétimo dia, precisei descançar do blog estes dias por motivos de cansaço extremo por causa de outras atividades. Só parei pra cumprir ordens de descançar abençoadamente ( =] ). Mas, estamos de volta agora e com muita coisa pra postar. Estas próximas postagens serão longas e polêmicas, por favor, não hesite em comentar e compartilhar caso tenha alguma dúvida.

Nesta postagem já estamos analisando o capítulo 2 do livro de Gênesis. Apesar do bom humor no primeiro parágrafo que escrevi, a verdade contida nele é profunda: precisamos respeitar os nossos limites. É saudável descançar após uma semana de trabalho cansativo. É digno descançar após trabalhar intensamente e é uma benção (interpretação devocional pessoal). Entretanto há uma questão muito profunda em relação aos "dias" escritos nestes textos. Primeiro quero dizer a você que "dia" não se refere às vinte e quatro horas que atribuimos ao nosso dia, mas ao "tempo". No nosso idioma separamos o "Dia" em dia (presença do sol) e noite¹ (ausência do sol), sendo a parte do dia em manhã e tarde e a parte da noite¹ em noite e madrugada. O hebreu faz uma separação diferente da nossa ,ele divide o seu "tempo" (ciclo diário) em dia (presença da luz) e suas partes em manhã e tarde (divididos seus intervalos em horas), e a noite (ausência da luz) e suas parte em vigílias (sendo em intervalos de três horas), começando a contar a primeira vígilia às 18hs na nossa marcação diária e as 06hs começa a contagem das horas.

Essa forma faz apologia ao fato da criação da luz, sendo que tudo era trevas e se fez luz para que começasse a contar o tempo e suas eras. Uma linha de pesquisa científica em Cosmologia, que estuda a origem do universo, defende a hipótese de que tempo e espaço surgiram juntamente no fenômeno conhecido como Big Bang, surgindo ali também a luz. Várias outras hipóteses, mesmo divergente quanto a descrição do evento inicial, concordam com o surgimento do espaço e tempo no instante de partida do evento surgindo com eles a luz. Sendo assim o ciclo diário do hebreu começa na noite e termina ao fim da tarde. Porém este "dia", no texto, se refera ao tempo de Deus, ao tempo da criação. É correto interpretá-lo da mesma forma como vemos o nosso dia? Este dia divino relaciona-se a cada Era da sua criação, sendo assim que na primeira era criou a luz e fez sua separação, e criou outras coisas em outras eras até criar o homem na sexta, e enfim, na sétima era descançar da criação, que significa que ali terminou o processo da criação. Alguns estudiosos acreditam que esta era do descanço de Deus ou da criação ainda nem tenha terminado (não é a minha opinião baseado em textos paralelos a estes). Vemos assim que este texto é muito rico em questões e digno de ser estudado profundamente.

Então, antes de continuarmos leia o texto bíblico se ainda não leu.

Note agora algumas curiosidades:

1) Percebeu que quando ainda não havia chovido não existia vida?
2) Notou qual a posição geográfica do lugar de origem do homem e do Éden?
3) Observou que o homem diz "Esta, sim" referindo-se a mulher que havia sido criada?

A abiogênese é uma das fases evolucionistas e refere-se a origem química da vida a partir de reações em compostos orgânicos gerados abioticamente. O consenso científico estima que ela ocorreu a 4,4 bilhões de anos quando o vapor de água condensou-se pela primeira vez na terra, ou seja, quando choveu pela primeira vez na terra primitiva. Que curioso! O efeito da chuvas na terra primitiva foi quem permitiu a existência da vida tanto no criacionismo bíblico quanto no evolucionismo. Sobretudo esse vapor já precedia um esfriamento da superfície terrestre e uma possível chance de surgirem partículas mais complexas geradas de descargas de raios e reações dos compostos da atmosfera primitiva. Na escola é comum os professores falarem da teoria da abiogênese e explicar como possivelmente se deu a construção das primeiras moléculas a partir dos gases da atmosfera primitiva.

As hipóteses de Oparin e Haldane, apesar de trabalharem separadamente, eram muito semelhantes e descreviam a possível formação química e física da atmosfera terrestre primitiva. Sua composição química era basicamente Amônia (NH3), Metano (CH4), gás Hidrogênio (H2) e vapor de água (H2O), entre outros compostos em baixíssimas concentrações, sendo assim considerado um ambiente redutor ou não oxidante por não haver - se houvesse seria em baixíssima concentração - a presença do gás Oxigênio (O2). Nesta Era a terra passava por um período de resfriamento da sua superfície devido a vários fatores, que permitiu o acúmulo de aguá em estado líquido nas depressões, formando os mares primitivos, e fazendo separação entre o vapor e a água em seu estado líquido. As descargas elétricas e a radiação que eram muito intensas (devido a ausência do Ozônio na atmosfera) teriam servido de fonte energética para que moléculas presentes na atmosfera reagissem dando origem a moléculas maiores e complexas. Esta moléculas eram arrastadas pelas águas das chuvas e se acumulavam nos mares primitivos que eram quentes e rasos. Repetindo-se este processo durante muito tempo os mares se tornaram verdadeiras "sopas nutritivas" contendo uma quantidade muito alta de moléculas orgânicas. Esta moléculas (possíveis aminoácidos) podem ter se agregado formando os primeiros coacervados. O coacervado é um conjunto de moléculas orgânicas reunidas em grupos envolvidos por moléculas de água. Eles não são seres vivos mas conjuntos de moléculas semi-isolados do meio externo a eles e havendo a possibilidade de ocorrência de reações com o meio exterior. Não se sabe como a primeira célula surgiu, mas pode-se supor que, existindo a possibilidade da organização dos coacervados, podem ter surgido sistemas equivalentes, a partir destes, envolvidos por membranas de lipídios e proteínas, e contendo em seu interior moléculas semelhantes aos acídos nucléicos.

Em resumo breve sobre este assunto temos uma construção do pensamento lógico e provável das primeiras moléculas orgânicas. É claro que existe muito a se falar sobre este assunto - inclusive existem outros modelos que enriquecem esta hipótese como os modelos hidrotermais - e serão construídos ainda outros alimentando a discussão sobre este assunto. Então observamos que através do criacionismo nos deparamos com a personalidade criadora das possibilidades e da probabilidades de ocorrência de todo o processo da criação e da evolução, e, através do evolucionismo chegamos ao entendendimento de como aconteceu este processo de construção de possibilidades na terra primitiva para o surgimento e aperfeiçoamento da vida.

Outro ponto interessante desta passagem é a descrição da localização da origem humana e do jardim criado por Deus no Éden - Gan Eden (Jardim no Éden/ גן עדן). Gan significa jardim mas na tradução Septuaginta é traduzida como paradeisos (paraíso). Devido a esta tradução que temos a associação de "jardim do Éden" com o paraíso. A palavra Eden possivelmente derivou-se da palavra ácade 'edinu', que derivou-se do sumério 'edin'. Em todas aparece com o significado de planície.

A localização do jardim é a leste de onde foi criado o homem. E o Éden (planície) está localizado na região que chamamos hoje de Mesopotâmia e toda a planície ligada a ela. Existem várias hipóteses sobre a localização do jardim no Éden, porém vou citar três delas e argumentar sobre a que acredito ser mais coerente. Baseado no texto contido no verso dez "nele nascia um rio que irrigava o jardim e depois se dividia em quatro" note que o rio que nascia no Éden (não no jardim) irrigava o jardim e só depois se dividia em quatro. O primeiro deles é Pison (Pishon/ פישון) que percorre a terra de Havilá (vHavíláh/ וחוילה), que é filho de Cuxe (Cuche/ כוש). A terra de Havilá é rica em ouro e pedras preciosas e hoje possivelmente é a Arábia ou a Núbia (significa ouro), porém mais provável ser a Arábia devido a localização de Havilá e de lá possivelmente ter sido alvo de extração de ouro pelos egípcios [Gn 10:7 e 25:18]. O segundo é Giom (Zihon/ זיחון) que percorre a terra de Cuxe, pai de Havilá. Os terceiro e quarto são conhecidos e seus nomes são Tigre (Hidekel/ חדקל), que está a leste da Assíria, e Eufrates (Parrat/ פרת). Resumindo o Éden descrito se localiza no que conhecemos hoje pela investigação arqueológica e histórica por Crescente Fértil. O grande mistério que encobre a localização exata do jardim é a incerteza em relação aos dois primeiros rios. É importante sabermos que Moisés falava da localização de um território em uma era anterior a dele com coordenadas de sua época. Possivelmente esses dois primeiros sejam até fósseis de rios hoje. As três hipóteses mais prováveis são:

I )   Que o Pison seja o Mar Vermelho e o Giom o Golfo Pérsico. Sendo assim o jardim estaria submerso no Mar da Arábia. Pensando desta forma temos que, hipoteticamente, pensar que os antigos reconheciam o Mar Vermelho como rio, o que não é verdade. Sabemos que o Mar Vermelho é considerado mar pelo antigos e vemos isso em vários textos.

II )  Que o Golfo Pérsico seja o rio divisor nos quatros rios, onde o Pison e o Giom estão mais a sul. Pensar assim também nos leva a um problema: temos que considerar que eles não consideravam que os rios desaguavam no mar mas que o mar que formava os rios e que o próprio golfo era um super rio.

A mais coerente:

III ) Que o Pison seja um rio a sudoeste do Eufrates que se une a ele e o Tigre antes de desaguar no golfo; e o Giom seja um fóssil de um rio, morto a muito tempo, a leste do Tigre que também se unia aos três antes de desaguar.


Apesar de ser a forma mais coerente da montagem deste quebra-cabeça traz consigo uma peça extra que pode mudar o curso de sua construção. Essa peça é o lugar de habitação dos descendentes de Cuxe que, possivelmente, é a Etiópia. Vemos isso em Isaías 20:3,5 e em Jeremias 46:9 onde a palavra Cuxe que indica os descendentes dele é traduzida com etíopes. A existência destas passagens geram duas possibilidades:

1) Os etíopes nem sempre terem morado na região da Etiópia conhecida hoje.
2) O rio Giom é o Nilo.

Qual a grande questão? Existe fundamentação para as duas. Os gregos chamavam o rio Pison de Ganges e o Giom de Nilo, entretanto a palavra Giom (Zihon) significa 'do oriente' ou 'vem do oriente' o que enfraquece o fato dos gregos estarem falando do mesmo Nilo que banha o Egito, porque este está a ocidente dos outros rios. Em relação a primeira possibilidade existem dois fatos importantes a considerar (considerando que os descendentes de Cuxe sejam os etíopes). Os descendentes de Cuxe habitavam a região da mesopotâmia em Giom, a leste do Tigre, por volta do século XII quando o Gênesis foi compilado. Mais tarde acontece a segunda ascenção do império dos Assírios (povo que habitava na parte norte da mesopotâmia) por volta de 900 a.C. No reinado de Adad-nirari II muito povos foram expulsos, inclusive os arameus, possibilitando um maior controle sobre as rotas comerciais. Assurnasirpal II, neto do Adad-nirari II, décadas depois dominou praticamente todos os pequenos reinos mesopotâmicos e foi considerado o fundador do Império Neo-Assírio. Construiu a cidade de Kalhu, na margem do Tigre, como a nova Capital do império. Esse monarca também foi famoso  pela dispersão em massa dos povos conquistado que, muitas vezes, eram deslocados como mão-de-obra para partes diferentes do império.

Sabemos que os descendentes de Cuxe habitavam a leste do Tigre, às margens do Giom, e que provavelmente não seria construida a capital do império assírio se aqueles povos ainda habitassem ali (por medidas de defesa). Temos então uma luz! Na época da compilação dos textos os descendentes de Cuxe ainda habitavam a leste do Tigre, às margens do Giom, sendo mais tarde expulsos de lá pelos assírios. O império construído em sua segunda ascenção estendeu-se grandemente até o antigo reino sírio e da Palestina (de frente ao deserto de Sur, às portas do Egito), o que, provavelmente, tenha obrigado os arameus a se deslocarem para a Síria do Norte, então região da Síria, e ao descendentes de Cuxe para sudeste do Egito, na atual Etiópia, pois toda mesopotâmia estava ocupada pelo assírios até a Palestina e ao antigo reino sírio, a região da Arábia por Havilá, a leste da mesopotâmia havia o império Persa, e às margens do Nilo o baixo (atual Egito) e o alto Egito (parte da região do atual Sudão).

Outro ponto é que o Golfo Pérsico nem sempre foi como é hoje. Ele já ocupou áreas territoriais bem menores. A 6 mil anos, possivelmente, ocupava apenas metade da área que ocupa hoje, e a 30 mil não havia, praticamente, invasão de águas do Mar da Arábia pelo Estreito de Ormuz. Considerando essas colocações vemos que a hipótese III da localização dos rios Pison e Giom é mais coerente. O Éden, então, é a região desde o Giom, que está a leste do Tigre, no Irã, até próximo ao deserto de Sur, no Golfo de Suez. Temos, pois também, a possível localização do Jardim no Éden como sendo a região atualmente submersa pela ponta do Golfo Pérsico.



Por hora é só. Relativo a terceira curiosidade no começo da postagem (Observou que o homem diz "Esta, sim" referindo-se a mulher que havia sido criada?) deixarei para a próxima postagem. Motivos? Acho que você já descobriu se leu todo o texto. Busquei resumir o máximo que pude do meu estudo para postar aqui, mas ainda ficou muito extenso. Perdoe-me por isso.

Quero agradecer a você que tem acompanhado as postagens e espero que esteja gostando.

Que o Eterno Criador abençoe sua vida e ilumine seus pensamentos. Um grande abraço!