Tópicos Sobre as Teorias e Exegése dos Textos Hebraicos
Analisaremos tópicos da humanidade contidos nos capítulos 3 e 6 de gênesis que mencionam o relato da queda do ser humano e a sua expansão fora do Jardim no Éden. Quero observar, antes de qualquer colocação, pontos importantes para o entendimento de tudo o que será exposto.
I ) A Serpente figurada no capítulo 3 é a pessoa do Diabo, Satanás (Ap 20:2). Desta forma entendemos que a figuração 'serpente' trata-se de um analogia da posíção de Satanás com a característica da espécie em questão. Ele foi a criação (como diz o texto 'a criatura mais astuta') mais astuta de Deus, e devido a sua declinação ao mal, tornou-se maléfico, perigoso e peçonhento. Sempre temos que estar atentos a riquesa da simbologia deste livro.
II) Se analisarmos o texto descritivamente e não figuradamente existirá um impasse na personificação da serpente: o Diabo era a serpente ou usou o corpo da serpente. Se ele era a serpente a deformação por consequência do pecado do homem atingiu ele e seus descendentes. Se ele usou o corpo de uma serpente a deformação cai sobre todas as espécies e suas crias. É um problema. Veja que o Diabo é a antiga serpente, segundo o texto de Apocalipse. Isto trata-se de uma figuração (analogia) e não de uma narrativa descritiva.
III) Eles foram expulsos do Jardim do Éden e não do Éden. As primeiras civilizações conhecidas da história habitavam a região do leste da Mesopotâmia até o Rio do Egito (Nilo), região que representa o Éden.
IV) Entendemos que isso aconteceu depois da queda do anjos na rebelião de Lúcifer.
V ) No capítulo 6 as palavras referidas a "filhos de Deus" são 'benai Elohim' (בני האלהים). Esta expressão refere-se em todo o VT aos seres celestes que chamamos anjos. As inscrições idênticas onde encontramos esta expressão estão em Jó 1:6, 2:1 e 38:7.
VI) Refere-se nesse contexto, provavelmente aos anjos caídos, já que aos anjos de Deus os textos usam a expressão "Mále-aqui Elohim" (מלאכי אלהים) encontrados em vários textos (também em Gn 28:12 e 32:1). Máleaqui é o nome de Malaquias em hebraico e quer dizer angélico, anjo. Outra menção de anjos é quando eles aparecem em forma humana e são chamados "HMále-aqui" (המלאכי), no plural "HMále-aqui'm" (המלאכים) e encontrados em vários textos (também em Gn 19:1 e 19:15).

A origem dos anjos é em meio a criação (Gn 1:1), provavelmente eles foram criados na criação dos céus e já existiam com Deus quando ele criou a terra (Jo 38:4-7). Não existem desde a eternidade (apesar dos anjos eleitos serem imortais), eles foram criados (Ne 9:6; Sl 148:2,5 e Cl 1:16). São numerosos (Dn 7:10; Mt26:53 e Hb 12:22). São invisíveis e espirituais mas podem se tornar corpóreos para interagir com esta dimensão (Cl 1:16; Gn 19:1-3 e outros). São chamados de 'exército' que é um nomeclatura dada a criaturas para mostrar que elas são uma espécie diferente. Não foram criados para o casamento e nem para relações sexuais estando no céu (Mt 22:30 e Lc 20:34-36) e que fica claro com os que foram expulsos que era possível (Gn 6:4). Os que cairam não estão inseridos no plano da redenção (Mt 25:41). Os anjos também são divididos em tipos e hierarquias. Anjos, querubins, serafins e arcanjos são os tipos diferentes de anjos mencionados. Principados, potestades, tronos, domínios e poderes são, possivelmente, classes hierarquicas dos seres angelicais.
Vamos agora buscar entender como se deu a queda e a consequência dela para os anjos e consequentemente para o homem. Em Ezequiel 28 há uma narrativa sobre um suposto Rei de Tiro, uma cidade fenícia conhecida pelo grande poder comercial (assim como todo o povo fenício). É um relado sobre um rei com o coração orgulhoso, que considerava-se um deus, sábio como Deus. Seu passado tinha sido glorioso mas seu futuro seria morte. Era o modelo de perfeição, sábio e belo. Estava no Jardim do Éden, e era enfeitado com pedras preciosas e ouro. Foi ungido como querubim guardião e estava no monte santo de Deus. Era inculpável desde o dia em que foi criado até que se achou maldade nele. Foi expulso por Deus do monte santo e seu coração se tornou orgulhoso por causa da sua beleza, corrompeu sua sabedoria e por isso foi lançado à terra. Chegará o seu fim e ele não existirá mais. É claro que o "rei de Tiro" refere-se a Satanás/Lúcifer (Lucem ferre do latim, que quer dizer Portador da Luz). Lúcifer é mencionado também como estrela da manhã (título de autoridade de dominar sobre nações) ou estrela d'alva e, metaforicamente, rei da Babilônia, em Isaías 14. Nesse texto, pricipalmente a partir do verso 12, vemos que a "estrela da manhã", o filho da alvorada cai do céu. Foi atirado à terra o que derrubava as nações. Aquele que dizia para si que subiria aos céus, ergueria um trono acima das estrelas de Deus e se assentaria no monte da assembléia, no ponto mais alto do monte santo. Note que "estrela da manhã" é dado como título de autoridade de domínio sobre nações (Ap 2:28 e 22:16) e Jesus se denomina a "resplandescente Estrela da Manhã", sendo a sua autoridade maior que a de qualquer um.
Lúcifer tentou usurpar o trono e domínio de Deus, fazendo-se deus. Rebelou-se contra Deus, corrempou a sua essência perfeita e condenou a sua existência. Arrastou consigo um terço de todos os anjos do céu (estrelas/autoridades) e travou uma grande batalha com Miguel, onde perdeu sendo expulso com os outros e lançado na terra (Ap 12). É nesse contexto de desgraça e sabendo que sua extinção era inevitável, já que ele não teria o perdão divino por ser um anjo que se rebelou contra Deus, que começa o plano de destruição da coroa da criação divina, a humanidade. Suas investidas contra a humanidade são com o propósito de destruir a igreja/Israel (mulher), mas não podendo atingí-la, ira-se e sai para guerrear contra o restante da descendência dela, os que obedecem a Deus e se mantém fiel ao testemunho de Jesus (individualmente). É claro que essa investida é muito antiga e começa quando ele (como serpente) ataca o entendimento de Eva com suas mentiras e dissemina a dúvida no coração da humanidade. Acontece então a queda da humanidade (Gn 3). Parece-me que a queda dos anjos era uma coisa inevitável, assim como a dos homens. Na ciência toda ação tem uma reação, toda matéria tem sua anti-matéria, e parece que todas as leis (fundamentos) que Deus estabelceu para esse universo existir se encaixam nessa afirmação. Quando Deus fala a Isaías sobre a salvação e do pecado de Israel do capítulo 42 ao 45 do livro, Ele fecha um dos recados ao seu ungido com a seguinte frase: "Eu formo a luz e crio as trevas, eu faço a paz e crio o mal; eu, o Senhor, faço todas essas coisas" (Is 45:7). Na versão católica fala ainda "formei a luz e criei as trevas, busco a felicidade e suscito a infelicidade". Dá um impressão que a "lei do oposto" de tudo no universo existe verdadeiramente. Portanto, criar a perfeita luz custaria criar a perfeita escuridão e criar o supremo bem custaria fazer existir um supremo mal. Confirmo que angeologia é muito delicado.
Embora seja uma questão difícil de ser entendida não deve ser descartada e fingirmos de conta que ela não existe. Afinal a queda do homem se deu por causa de uma lacuna nesse questionamento: porque sabendo Deus que o homem cairia manteve ele tão próximo da árvore que possuía o fruto do conhecimento do Bem e do Mal? O interessante é que a "lei do oposto" novamente se mostra quando Deus coloca a Árvore da Vida, que gera vida, e a Árvore do conhecimento do Bem e do Mal, que gera a morte, ambas no mesmo jardim em contato com o homem. Figuradamente, é claro, isso nos mostra que a criação da vida gerou também a criação da morte. Quer dizer que o homem morreria mesmo sem comer da árvore? É claro! Até porque Deus falava não da morte física mas da morte do seu espírito que havia sido criado para ser eterno. Criar a vida custou criar a morte. Outra coisa que vemos sobre a lei do oposto é que Deus cria o homem um ser virgem de conhecimento, não conhece o Bem e nem o Mal. Isso, em contrapartida, acarreta a vunerabilidade da mente humana em receber uma nova versão (dada pela serpente) já que não conhecia o que era bom e nem o que era mau. Possivelmente Deus iria ensinar ao homem todas as coisas já que na narrativa comenta-se que Deus vinha quando soprava a brisa do dia e falava com eles, pois aprendendo dEle o homem aprenderia a pratica do bem e o resguardo do mal, e não por contra própria como tentou ao comer do "fruto" levando-o a não discernir entre os dois, concernindo com o mal, pois agora ele era com um ser divino sem preparo para ser. Isso fica claro quando vemos que antes de perguntar se eles haviam comido do fruto, pergunta quem haveria lhes ensinado que estavam nus dizendo: "quem lhe disse que você estava nu? Você comeu do fruto da árvore da qual lhe proibí?". O homem podia ser ensinado e, provavelmente, era ou seria por Deus.
A razão do investimento na queda do homem por Satanás (hSha'tan/ השטן) foi macular a criação divina com o pecado e fazer o homem cair na mesma desgraça que ele, perdendo a eternidade do seu espírito. Possivelmente, por razão do seu orgulho, de quem tentou usurpar o lugar de Deus, busca imitar as coisas divinas e suas criações. Os filhos de Deus (benai Elohim), termo usado para falar dos anjos, e nessa caso, provavelmente, dos anjos caídos, uniram-se com as filhas do homem gerando uma prole de "super humanos" que conviveram com os gigantes chamados Nefilim's (נפלים), que sua tradução é "sem sucesso", insucessos ou fracassados. É claro no texto de Gn 6:1 a diferencça entre homens e filhos de Deus. Os anjos caídos tentam imitar Deus criando a sua própria raça de homens que eram poderosos pois descendiam deles. Veja o texto original de Gn 6:4:
הנפלים¹ היו בארץ² בימים ההם וגם אחרי כן אשר יבאו בני האלהים אל בנות האדם וילדו להם המה. הגברים אשר מעולם
. אנשי השם
Nefilins¹ (fracassados) estavam no país² (terra) naqueles dias e também depois, quando os filhos de Deus e as filhas dos homens tinham seus filhos. Os homens que tinham o nome (que eram poderosos ou heróis).
Os Nefilins não eram os filhos da geração de anjos com humanos, mas de outra geração peculiar. Acredita-se que Golias seja descendente de uma raiz destes povos gigantes que fala o capítulo 6 que sobreviveu ao dilúvio ou que não estava no lugar onde ele aconteceu. Note que por causa da maldade que se propagava no coração da humanidade e acelerava-se com a geração de descendentes dos filhos de Deus com as a filhas dos homens que Deus decide então acabar com aquela geração que estava se corrompendo. O Mal supremo tomava conta do coração humano fazendo que a inclinação dos seus pensamentos fossem sempre e somente para ele. Era necessário acabar com aquela geração que ía contra aquilo que Deus queria para humanidade. Existia porém Noé e sua família que não havia se contaminado com aquela geração e seriam poupados para continuarem o plano de multiplicação e dominação daquela terra pelos homens.
Sobre Noé, o dilúvio, os patriarcas e outros acontecimentos falaremos em outras postagens. Qualquer dúvida sobre o assunto deixe um comentário ou mande um email para manoelrabelofilho @gmail.com ou @hotmail.com. Que o Eterno Criador, Deus, ilumine os seus caminhos e pensamentos.
Um grande abraço!
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