quarta-feira, 1 de maio de 2013

No Princípio - Parte 7 - Humanidade e Queda

Tópicos Sobre as Teorias e Exegése dos Textos Hebraicos


Analisaremos tópicos da humanidade contidos nos capítulos 3 e 6 de gênesis que mencionam o relato da queda do ser humano e a sua expansão fora do Jardim no Éden. Quero observar, antes de qualquer colocação, pontos importantes para o entendimento de tudo o que será exposto.

I )  A Serpente figurada no capítulo 3 é a pessoa do Diabo, Satanás (Ap 20:2). Desta forma entendemos que a figuração 'serpente' trata-se de um analogia da posíção de Satanás com a característica da espécie em questão. Ele foi a criação (como diz o texto 'a criatura mais astuta') mais astuta de Deus, e devido a sua declinação ao mal, tornou-se maléfico, perigoso e peçonhento. Sempre temos que estar atentos a riquesa da simbologia deste livro.
II)  Se analisarmos o texto descritivamente e não figuradamente existirá um impasse na personificação da serpente: o Diabo era a serpente ou usou o corpo da serpente. Se ele era a serpente a deformação por consequência do pecado do homem atingiu ele e seus descendentes. Se ele usou o corpo de uma serpente a deformação cai sobre todas as espécies e suas crias. É um problema. Veja que o Diabo é a antiga serpente, segundo o texto de Apocalipse. Isto trata-se de uma figuração (analogia) e não de uma narrativa descritiva.
III) Eles foram expulsos do Jardim do Éden e não do Éden. As primeiras civilizações conhecidas da história habitavam a região do leste da Mesopotâmia até o Rio do Egito (Nilo), região que representa o Éden.
IV) Entendemos que isso aconteceu depois da queda do anjos na rebelião de Lúcifer.
V ) No capítulo 6 as palavras referidas a "filhos de Deus" são 'benai Elohim' (בני האלהים). Esta expressão refere-se em todo o VT aos seres celestes que chamamos anjos. As inscrições idênticas onde encontramos esta expressão estão em Jó 1:6, 2:1 e 38:7.
VI) Refere-se nesse contexto, provavelmente aos anjos caídos, já que aos anjos de Deus os textos usam a expressão "Mále-aqui Elohim" (מלאכי אלהים) encontrados em vários textos (também em Gn 28:12 e 32:1). Máleaqui é o nome de Malaquias em hebraico e quer dizer angélico, anjo. Outra menção de anjos é quando eles aparecem em forma humana e são chamados "HMále-aqui" (המלאכי), no plural "HMále-aqui'm" (המלאכים) e encontrados em vários textos (também em Gn 19:1 e 19:15).   

Esclarecidas estas coisas vamos nos aprofundar na queda da humanidade e nos primeiros povos que surgiram depois dela, e também os Nefilins. Para enteder a queda do homem temos que estudar um pouco de angeologia e entender como se deu a queda dos anjos. Confesso que esse tema é muito complexo e acredito que por mais que uma pessoa estude este assunto continuará sempre sendo um leigo, pois o que temos como material para fundamentar nossos estudos é escasso. Vou expor um resumo com referências sobre a origem e algumas características dos anjos.

A origem dos anjos é em meio a criação (Gn 1:1), provavelmente eles foram criados na criação dos céus e já existiam com Deus quando ele criou a terra (Jo 38:4-7). Não existem desde a eternidade (apesar dos anjos eleitos serem imortais), eles foram criados (Ne 9:6; Sl 148:2,5 e Cl 1:16). São numerosos (Dn 7:10; Mt26:53 e Hb 12:22). São invisíveis e espirituais mas podem se tornar corpóreos para interagir com esta dimensão (Cl 1:16; Gn 19:1-3 e outros). São chamados de 'exército' que é um nomeclatura dada a criaturas para mostrar que elas são uma espécie diferente. Não foram criados para o casamento e nem para relações sexuais estando no céu (Mt 22:30 e Lc 20:34-36) e que fica claro com os que foram expulsos que era possível (Gn 6:4). Os que cairam não estão inseridos no plano da redenção (Mt 25:41). Os anjos também são divididos em tipos e hierarquias. Anjos, querubins, serafins e arcanjos são os tipos diferentes de anjos mencionados. Principados, potestades, tronos, domínios e poderes são, possivelmente, classes hierarquicas dos seres angelicais.

Vamos agora buscar entender como se deu a queda e a consequência dela para os anjos e consequentemente para o homem. Em Ezequiel 28 há uma narrativa sobre um suposto Rei de Tiro, uma cidade fenícia conhecida pelo grande poder comercial (assim como todo o povo fenício). É um relado sobre um rei com o coração orgulhoso, que considerava-se um deus, sábio como Deus. Seu passado tinha sido glorioso mas seu futuro seria morte. Era o modelo de perfeição, sábio e belo. Estava no Jardim do Éden, e era enfeitado com pedras preciosas e ouro. Foi ungido como querubim guardião e estava no monte santo de Deus. Era inculpável desde o dia em que foi criado até que se achou maldade nele. Foi expulso por Deus do monte santo e seu coração se tornou orgulhoso por causa da sua beleza, corrompeu sua sabedoria e por isso foi lançado à terra. Chegará o seu fim e ele não existirá mais. É claro que o "rei de Tiro" refere-se a Satanás/Lúcifer (Lucem ferre do latim, que quer dizer Portador da Luz). Lúcifer é mencionado também como estrela da manhã (título de autoridade de dominar sobre nações) ou estrela d'alva e, metaforicamente, rei da Babilônia, em Isaías 14. Nesse texto, pricipalmente a partir do verso 12, vemos que a "estrela da manhã", o filho da alvorada cai do céu. Foi atirado à terra o que derrubava as nações. Aquele que dizia para si que subiria aos céus, ergueria um trono acima das estrelas de Deus e se assentaria no monte da assembléia, no ponto mais alto do monte santo. Note que "estrela da manhã" é dado como título de autoridade de domínio sobre nações (Ap 2:28 e 22:16) e Jesus se denomina a "resplandescente Estrela da Manhã", sendo a sua autoridade maior que a de qualquer um.

Lúcifer tentou usurpar o trono e domínio de Deus, fazendo-se deus. Rebelou-se contra Deus, corrempou a sua essência perfeita e condenou a sua existência. Arrastou consigo um terço de todos os anjos do céu (estrelas/autoridades) e travou uma grande batalha com Miguel, onde perdeu sendo expulso com os outros e lançado na terra (Ap 12). É nesse contexto de desgraça e sabendo que sua extinção era inevitável, já que ele não teria o perdão divino por ser um anjo que se rebelou contra Deus, que começa o plano de destruição da coroa da criação divina, a humanidade. Suas investidas contra a humanidade são com o propósito de destruir a igreja/Israel (mulher), mas não podendo atingí-la, ira-se e sai para guerrear contra o restante da descendência dela, os que obedecem a Deus e se mantém fiel ao testemunho de Jesus (individualmente). É claro que essa investida é muito antiga e começa quando ele (como serpente) ataca o entendimento de Eva com suas mentiras e dissemina a dúvida no coração da humanidade. Acontece então a queda da humanidade (Gn 3). Parece-me que a queda dos anjos era uma coisa inevitável, assim como a dos homens. Na ciência toda ação tem uma reação, toda matéria tem sua anti-matéria, e parece que todas as leis (fundamentos) que Deus estabelceu para esse universo existir se encaixam nessa afirmação. Quando Deus fala a Isaías sobre a salvação e do pecado de Israel do capítulo 42 ao 45 do livro, Ele fecha um dos recados ao seu ungido com a seguinte frase: "Eu formo a luz e crio as trevas, eu faço a paz e crio o mal; eu, o Senhor, faço todas essas coisas" (Is 45:7). Na versão católica fala ainda "formei a luz e criei as trevas, busco a felicidade e suscito a infelicidade". Dá um impressão que a "lei do oposto" de tudo no universo existe verdadeiramente. Portanto, criar a perfeita luz custaria criar a perfeita escuridão e criar o supremo bem custaria fazer existir um supremo mal. Confirmo que angeologia é muito delicado.

Embora seja uma questão difícil de ser entendida não deve ser descartada e fingirmos de conta que ela não existe. Afinal a queda do homem se deu por causa de uma lacuna nesse questionamento: porque sabendo Deus que o homem cairia manteve ele tão próximo da árvore que possuía o fruto do conhecimento do Bem e do Mal? O interessante é que a "lei do oposto" novamente se mostra quando Deus coloca a Árvore da Vida, que gera vida, e a Árvore do conhecimento do Bem e do Mal, que gera a morte, ambas no mesmo jardim em contato com o homem. Figuradamente, é claro, isso nos mostra que a criação da vida gerou também a criação da morte. Quer dizer que o homem morreria mesmo sem comer da árvore? É claro! Até porque Deus falava não da morte física mas da morte do seu espírito que havia sido criado para ser eterno. Criar a vida custou criar a morte. Outra coisa que vemos sobre a lei do oposto é que Deus cria o homem um ser virgem de conhecimento, não conhece o Bem e nem o Mal. Isso, em contrapartida, acarreta a vunerabilidade da mente humana em receber uma nova versão (dada pela serpente) já que não conhecia o que era bom e nem o que era mau. Possivelmente Deus iria ensinar ao homem todas as coisas já que na narrativa comenta-se que Deus vinha quando soprava a brisa do dia e falava com eles, pois aprendendo dEle o homem aprenderia a pratica do bem e o resguardo do mal, e não por contra própria como tentou ao comer do "fruto" levando-o a não discernir entre os dois, concernindo com o mal, pois agora ele era com um ser divino sem preparo para ser. Isso fica claro quando vemos que antes de perguntar se eles haviam comido do fruto, pergunta quem haveria lhes ensinado que estavam nus dizendo: "quem lhe disse que você estava nu? Você comeu do fruto da árvore da qual lhe proibí?". O homem podia ser ensinado e, provavelmente, era ou seria por Deus.

A razão do investimento na queda do homem por Satanás (hSha'tan/ השטן) foi macular a criação divina com o pecado e fazer o homem cair na mesma desgraça que ele, perdendo a eternidade do seu espírito. Possivelmente, por razão do seu orgulho, de quem tentou usurpar o lugar de Deus, busca imitar as coisas divinas e suas criações. Os filhos de Deus (benai Elohim), termo usado para falar dos anjos, e nessa caso, provavelmente, dos anjos caídos, uniram-se com as filhas do homem gerando uma prole de "super humanos" que conviveram com os gigantes chamados Nefilim's (נפלים), que sua tradução é "sem sucesso", insucessos ou fracassados. É claro no texto de Gn 6:1 a diferencça entre homens e filhos de Deus. Os anjos caídos tentam imitar Deus criando a sua própria raça de homens que eram poderosos pois descendiam deles. Veja o texto original de Gn 6:4:

הנפלים¹ היו בארץ² בימים ההם וגם אחרי כן אשר יבאו בני האלהים אל בנות האדם וילדו להם המה. הגברים אשר מעולם 
                                                                                                                                       . אנשי השם
Nefilins¹ (fracassados) estavam no país² (terra) naqueles dias e também depois, quando os filhos de Deus e as filhas dos homens tinham seus filhos. Os homens que tinham o nome (que eram poderosos ou heróis).

Os Nefilins não eram os filhos da geração de anjos com humanos, mas de outra geração peculiar. Acredita-se que Golias seja descendente de uma raiz destes povos gigantes que fala o capítulo 6 que sobreviveu ao dilúvio ou que não estava no lugar onde ele aconteceu. Note que por causa da maldade que se propagava no coração da humanidade e acelerava-se com a geração de descendentes dos filhos de Deus com as a filhas dos homens que Deus decide então acabar com aquela geração que estava se corrompendo. O Mal supremo tomava conta do coração humano fazendo que a inclinação dos seus pensamentos fossem sempre e somente para ele. Era necessário acabar com aquela geração que ía contra aquilo que Deus queria para humanidade. Existia porém Noé e sua família que não havia se contaminado com aquela geração e seriam poupados para continuarem o plano de multiplicação e dominação daquela terra pelos homens.


Sobre Noé, o dilúvio, os patriarcas e outros acontecimentos falaremos em outras postagens. Qualquer dúvida sobre o assunto deixe um comentário ou mande um email para manoelrabelofilho @gmail.com ou @hotmail.com. Que o Eterno Criador, Deus, ilumine os seus caminhos e pensamentos.

Um grande abraço!

sexta-feira, 12 de abril de 2013

No Princípio - Parte 6 - Origem da Vida

Tópicos acerca da Origem da Vida - Humanidade


Trataremos nessa postagem sobre a terceira curiosidade na parte cinco da série de estudos sobre o princípio.

Observou que o homem diz "Esta, sim" referindo-se a mulher que havia sido criada?

Antes de chegar à resposta desta curiosidade vamos entender algumas coisas que falam os textos que mencionam a humanidade.

Gênesis [1:26-28]; [2:7,15,18-23]; [4:17]: [5:3-4] e [6:1,2 e 4].

Leia todos, sem exceção, e vamos discuti-los.

Quando homem e mulher foram criados (Gn 1:26-28) lhes foi confiada a fertilidade e a responsabilidade pela multiplicação, povoamento e subjugação da terra. A grande questão é: eles praticavam a relação sexual nesta era? E a resposta é mais uma pergunta: que outra forma você conhece para multiplicar sua descendência? O texto é claro no que se refere a ordem de Deus a eles: "Sejam férteis e multipliquem-se! Encham e subjuguem a terra!". Então temos logo após o surgimento da humanidade a sua multiplicação. Perceba que após a fuga de Caim (4:17) da terra onde estavam Adão e Eva, ele mantém relações com sua mulher, engravidando-a, dando à luz a Enoque. Segundo o texto (5:3-4), Adão e Eva, só geraram filhas após ter nascido Sete. Então, que mulher era essa, já que Adão e Eva só tiveram filhas após gerar Sete, seu terceiro filho? Isso quer dizer que já existiam seres humanos na terra que não eram descendentes de Adão e Eva? Então, temos duas possibilidades:

I) Adão não foi o primeiro a existir, mas o primeiro de uma linhagem pura criada por Deus a fim de concervá-lo separado da maldade.
II) Adão foi o primeiro homem, mas Eva não foi a primeira mulher.

Vamos analisar com cuidado cada uma das possibilidades.


Adão não foi o primeiro ser humano

Farei um paralelo entre as traduções dos textos originais:

Gn 1:27
ויברא אלהים את האדם¹ בצלמו בצלם אלהים ברא אתו זכר² ונקבה³ ברא אתם
E Deus criou o homem¹ à sua imagem Deus o criou; macho² e fêmea³ os criou. (algumas versões apresentam 'homem e mulher os criou')

Gn 2:7
וייצר יהוה אלהים את האדם¹ עפר מן האדמה² ויפח באפיו נשמת חיים ויהי האדם³ לנפש חיה
E o Senhor Deus fez o homem¹ do pó da terra² e soprou em suas narinas o fôlego da vida, e o homem³ tornou-se alma viva.

Gn 2:18
ויאמר יהוה אלהים לא טוב היות האדם לבדו אעשה לו עזר כנודו
E disse o Senhor Deus: não é bom para o homem ficar sozinho, farei alguém que ajude no seu caminho.

Gn 2:23
ויאמר האדם¹ זאת הפעם עצם מעצמי ובשר מבשרי לזאת יקרא אשה² כי מאיש³ לקחה זאת
E disse Adão¹: Esta, é agora, osso dos meus ossos e carne da minha carne, ela se chamará mulher², porque do homem³ tomou.

A palavra האדם (Haadam/ homem / vermelho*/ barro**) é apresentado de três formas diferentes nestes textos. Como ser humano na primeira, gênero na segunda e terceira, e indivíduo na quarta. Na primeira fica bem ressaltado o significado porque a frente é discriminado dois gêneros, macho e fêmea. Na segunda vemos uma segunda palavra sublinhada por mim que é האדמה (Haadamah/ terreno ou terra). Desta ligação entre as palavras que surge a expressão bíblica "do pó viemos e ao pó tornaremos", pois a palavra Haadam é derivada de Haadamah. Assim como na terceira ele trata a palavra Haadam como gênero masculino, baseado no quarto texto onde a partir de Haadam é criado uma mulher. E, na quarta, trata-se do indivíduo Haadam que põe o nome da criação feminina de mulher. Note que da palavra איש (ish/ homem) é criada אשה (ishah/ mulher) dado pelo indivíduo Haadam, mostrando que Haadam agora é o personagem Adão.

Analisando os textos vemos que mesmo ultilizando a mesma palavra (Haadam) fica bem claro que em Gn 1:27 não se trata de Adão, mas do ser humano em geral, a não ser que o mesmo fosse andrógino (existe uma hipótese especulativa sobre isso). Reforçada tal ideia pelo fato que citamos anteriomente na descendência de Caim, visto que, Adão não gerou filhas antes do nascimento de Sete, período em que Caim já havia fugido e, provavelmente, estabelecido família. Então, Adão não foi o primeiro da espécie humana, mas o primeiro de uma linhagem criada, especialmente, afim de ser separado e cuidado por Deus. Por consequência Eva não foi a primeira mulher, já que foi criada a partir de Adão. Alguns, hipoteticamente, dizem que Caim teria voltado a terra dos pais e tomado uma de suas irmãs, levando-a e estabelecendo sua descendência. Porém, trata-se apenas de especulações sem fundamentação nos escritos como tentativa de eufemizar uma discussão sobre este assunto. 



Eva não foi a primeira mulher

Existe uma personagem que é mencionada apenas uma vez em toda a Bíblia (Cânon usual), seu nome é Lilith. No "folclore" hebreu medieval ela é tida como a primeira mulher criada por Deus junto com Adão, que o abandonou, deixando o Jardim por causa de uma disputa de igualdade de gêneros, passando depois disso ser descrita como um demônio. Segundo a interpretação da criação feita no Alfabeto de Ben Sirá - foi estudioso e escritor de vários textos, o mais conhecido deles é o Eclesiástico, livro deuterocanônico da Bíblia, estando presente apenas no Cânon católico - Lilith foi criada da mesma matéria de Adão, porém recusava-se a ficar em baixo na relação sexual. Segundo este manuscrito Ben Sirá descreve a passagem sobre Lilith a Nabucodonosor, rei da Babilônia. O grande problema é que este manuscrito relaciona-se ao século VI a.C. e o Eclesiástico ao século II a.C.. Por esse motivo o livro de Eclesiástico não pertence ao Tanakh (Cânon hebráco), o que levou a retirá-lo da coleção de livros sagrados da versão mais impressa da Bíblia, que contém 66 livros. Está estória é estudada detalhadamente nos conjuntos de estudos hebráicos conhecidos como Talmud e Midrash, uma éspecie de coleção de livros que formam uma ementa para seus estudos teológicos. Ela é citada no livro de Isaías, capítulo 34 e verso 14.

ופגשו ציים את איים ושעיר* על רעהו¹ יקרא אך שם הרגיעה² לילית³ ומעאה לה מנוח
E se reunirão frotas da(o) ilha/deserto com feras/peludos*, o outro¹ chamará por seu semelhante; e alí Lilith³ acalmará/pousará² e encontrará seu descanço.

Vejamos como está em outras traduções:

Nova Versão Internacional - Criaturas do deserto se encontrarão com hienas, e bodes selvagens balirão uns pra os outros; alí também descansarão as criaturas noturnas e acharão para si locais de descanso.

Almeida Corrigida e Revisada Fiel - As feras do deserto se encontrarão com as feras da ilha, e o sátiro clamará a seu companheiro; e os animais noturnos ali pousarão, e acharão lugar de repouso para si.

Almeida Revisada Imprensa Bíblica - E as feras do deserto se encontrarão com hienas, e o sátiro clamará ao seu companheiro; e Lilite pousará ali, e achará lugar de repouso pra si.

Sociedade Bíblica Britânica - As feras do deserto se encontrarão com as hienas, e os sátiros clamarão uns para os outros; a bruxa pousará ali e achará para si um lugar de descanso.

Versão Católica Pastoral - Nela se encontrarão cães e gatos selvagens, e os sátiros chamarão uns pelos outros; espectro noturno frequentará esses lugares e neles encontrará o seu repouso.

Estas versões estão disponíveis no site www.bibliaonline.com.br .

Em outras versões é substituído Lilith por coruja (ianshuf/ ינשוף).

Todo esse texto de Isaías (incluindo os versos anteriores e posterioes) reflete a visão negativa que se tinham de Lilith, carácterísta igualmente compartilhada pelos assírios que a tinham como um demônio. Historicamente, após Isaías, os hebreus foram conquistados pelos babilônicos, os quais adoravam a figura da deusa da noite Lilith. O que, possivelmente, acentuou ainda mais o sentimento negativo em relação a personagem. Também é mencionada como a serpente que tentou Eva. São feitas alusões diferentes em todas as versões como criatura noturna, animal noturno, bruxa e espectro noturno (fantasma). Só a versão ARIB traz o nome Lilite.

Esta estátua babilônica, encontrada em Terracota, é atribuída a Lilith. É datada de 2000 a.C. a 1500 a.C.. Note as corujas e hienas que estão ao seu lado descansando.

No texto que coloquei em hebráico e sua tradução selecionei alguma palavras que considerei importantes.

1) Esta palavra é traduzida como sátiro ou bode selvagem. Sátiro é um personagem da mitologia grega que é metade homem e metade bode. No texto hebráico a palavra רעהו (reauhu) é indefinida, mas refere-se as feras, como se uma fera ou animal peludo chamasse o outro semelhante a ela/ele.
2) Esta palavra tem tradução para acalmar e pousar (Hirguíauh), fato usado para algumas versões utilizarem coruja no lugar de Lilith na sua tradução. No folclore hebreu ela tinha asas, as quais foram usadas para fugir do Jardim.
3) É traduzida como criaturas noturnas, animais noturnos, bruxa ou fantasma. Tem versões gregas que traduzem como noite calma (Lilith Hirguíauh). Não sabe-se ao certo se é a palavra Lilith (לילית) que deriva-se de Noite (Lailah/ לילה) ou o contrário, mas a sua relação é clara. No Talmud e Midrash, e no folclore hebreu, esta relação contribui para o fortalecimento do estudo sobre esta hipótese.
*) Fera é sinônimo de peludo ou animal peludo.

Por causa da expressão "Esta, sim" ou no original "Esta, é agora"  é que relaciona-se o fato de Lilith ter sido criada junto com Adão relatado no texto de Gn 1:27. Porém esta espressão é uma brecha especulativa, pois contextualizando, refere-se ao fato de Deus trazer todos os animais criados para o homem lhes dar nomes, e não achando um ajudador para ele, cria o ser feminino que Adão chama mulher. Isso reflete a inferiorização feminina naquela época. Fato que, segundo Ben Sirá, Lilith não aceitou, e na época atual é símbolo do feminismo, mencionada como a primeira feminista.



Por causa do erro na datação dos escritos de Ben Sirá e por não ser considerado verdade pelos estudiosos hebráicos, a não ser como valor folclórico, anula-se o fato de Lilith ser a primeira mulher de Adão. Porém, não anula a existência do seu personagem tanto exterior quanto interior a Bíblia.


A conclusão que chegamos é que a hipótese mais coerente para a solução da problemática da muliplicação do ser humano na terra, que envolve também Caim e sua mulher, é que Adão não foi o primeiro homem, e nem Eva a primeira mulher, mas ambos os primeiros de uma geração especiamente criada por Deus para cuidarem e cultivarem o Jardim no Éden, e aprenderem de Deus a se guardarem da maldade.


Nas próximas publicações vamos falar sobre a queda da humanidade e sobre uma linhagem rara de homens, os Nefilins. Muito obrigado por ler. Se gostou ajude a divulgar compartilhando. Qualquer dúvida é só postar um comentário, ou me mandar um email: manoelrabelofilho@gmail.com. Se puder ser respondido será!

Um abraço a todos!

segunda-feira, 8 de abril de 2013

No Princípio - Parte 5 - Origem da Vida

Tópicos acerca da Origem da Vida

Perdoem-me pela demora em postar a parte 5, mas assim como Deus descançou ao terminar a sua criação abençoando o sétimo dia, precisei descançar do blog estes dias por motivos de cansaço extremo por causa de outras atividades. Só parei pra cumprir ordens de descançar abençoadamente ( =] ). Mas, estamos de volta agora e com muita coisa pra postar. Estas próximas postagens serão longas e polêmicas, por favor, não hesite em comentar e compartilhar caso tenha alguma dúvida.

Nesta postagem já estamos analisando o capítulo 2 do livro de Gênesis. Apesar do bom humor no primeiro parágrafo que escrevi, a verdade contida nele é profunda: precisamos respeitar os nossos limites. É saudável descançar após uma semana de trabalho cansativo. É digno descançar após trabalhar intensamente e é uma benção (interpretação devocional pessoal). Entretanto há uma questão muito profunda em relação aos "dias" escritos nestes textos. Primeiro quero dizer a você que "dia" não se refere às vinte e quatro horas que atribuimos ao nosso dia, mas ao "tempo". No nosso idioma separamos o "Dia" em dia (presença do sol) e noite¹ (ausência do sol), sendo a parte do dia em manhã e tarde e a parte da noite¹ em noite e madrugada. O hebreu faz uma separação diferente da nossa ,ele divide o seu "tempo" (ciclo diário) em dia (presença da luz) e suas partes em manhã e tarde (divididos seus intervalos em horas), e a noite (ausência da luz) e suas parte em vigílias (sendo em intervalos de três horas), começando a contar a primeira vígilia às 18hs na nossa marcação diária e as 06hs começa a contagem das horas.

Essa forma faz apologia ao fato da criação da luz, sendo que tudo era trevas e se fez luz para que começasse a contar o tempo e suas eras. Uma linha de pesquisa científica em Cosmologia, que estuda a origem do universo, defende a hipótese de que tempo e espaço surgiram juntamente no fenômeno conhecido como Big Bang, surgindo ali também a luz. Várias outras hipóteses, mesmo divergente quanto a descrição do evento inicial, concordam com o surgimento do espaço e tempo no instante de partida do evento surgindo com eles a luz. Sendo assim o ciclo diário do hebreu começa na noite e termina ao fim da tarde. Porém este "dia", no texto, se refera ao tempo de Deus, ao tempo da criação. É correto interpretá-lo da mesma forma como vemos o nosso dia? Este dia divino relaciona-se a cada Era da sua criação, sendo assim que na primeira era criou a luz e fez sua separação, e criou outras coisas em outras eras até criar o homem na sexta, e enfim, na sétima era descançar da criação, que significa que ali terminou o processo da criação. Alguns estudiosos acreditam que esta era do descanço de Deus ou da criação ainda nem tenha terminado (não é a minha opinião baseado em textos paralelos a estes). Vemos assim que este texto é muito rico em questões e digno de ser estudado profundamente.

Então, antes de continuarmos leia o texto bíblico se ainda não leu.

Note agora algumas curiosidades:

1) Percebeu que quando ainda não havia chovido não existia vida?
2) Notou qual a posição geográfica do lugar de origem do homem e do Éden?
3) Observou que o homem diz "Esta, sim" referindo-se a mulher que havia sido criada?

A abiogênese é uma das fases evolucionistas e refere-se a origem química da vida a partir de reações em compostos orgânicos gerados abioticamente. O consenso científico estima que ela ocorreu a 4,4 bilhões de anos quando o vapor de água condensou-se pela primeira vez na terra, ou seja, quando choveu pela primeira vez na terra primitiva. Que curioso! O efeito da chuvas na terra primitiva foi quem permitiu a existência da vida tanto no criacionismo bíblico quanto no evolucionismo. Sobretudo esse vapor já precedia um esfriamento da superfície terrestre e uma possível chance de surgirem partículas mais complexas geradas de descargas de raios e reações dos compostos da atmosfera primitiva. Na escola é comum os professores falarem da teoria da abiogênese e explicar como possivelmente se deu a construção das primeiras moléculas a partir dos gases da atmosfera primitiva.

As hipóteses de Oparin e Haldane, apesar de trabalharem separadamente, eram muito semelhantes e descreviam a possível formação química e física da atmosfera terrestre primitiva. Sua composição química era basicamente Amônia (NH3), Metano (CH4), gás Hidrogênio (H2) e vapor de água (H2O), entre outros compostos em baixíssimas concentrações, sendo assim considerado um ambiente redutor ou não oxidante por não haver - se houvesse seria em baixíssima concentração - a presença do gás Oxigênio (O2). Nesta Era a terra passava por um período de resfriamento da sua superfície devido a vários fatores, que permitiu o acúmulo de aguá em estado líquido nas depressões, formando os mares primitivos, e fazendo separação entre o vapor e a água em seu estado líquido. As descargas elétricas e a radiação que eram muito intensas (devido a ausência do Ozônio na atmosfera) teriam servido de fonte energética para que moléculas presentes na atmosfera reagissem dando origem a moléculas maiores e complexas. Esta moléculas eram arrastadas pelas águas das chuvas e se acumulavam nos mares primitivos que eram quentes e rasos. Repetindo-se este processo durante muito tempo os mares se tornaram verdadeiras "sopas nutritivas" contendo uma quantidade muito alta de moléculas orgânicas. Esta moléculas (possíveis aminoácidos) podem ter se agregado formando os primeiros coacervados. O coacervado é um conjunto de moléculas orgânicas reunidas em grupos envolvidos por moléculas de água. Eles não são seres vivos mas conjuntos de moléculas semi-isolados do meio externo a eles e havendo a possibilidade de ocorrência de reações com o meio exterior. Não se sabe como a primeira célula surgiu, mas pode-se supor que, existindo a possibilidade da organização dos coacervados, podem ter surgido sistemas equivalentes, a partir destes, envolvidos por membranas de lipídios e proteínas, e contendo em seu interior moléculas semelhantes aos acídos nucléicos.

Em resumo breve sobre este assunto temos uma construção do pensamento lógico e provável das primeiras moléculas orgânicas. É claro que existe muito a se falar sobre este assunto - inclusive existem outros modelos que enriquecem esta hipótese como os modelos hidrotermais - e serão construídos ainda outros alimentando a discussão sobre este assunto. Então observamos que através do criacionismo nos deparamos com a personalidade criadora das possibilidades e da probabilidades de ocorrência de todo o processo da criação e da evolução, e, através do evolucionismo chegamos ao entendendimento de como aconteceu este processo de construção de possibilidades na terra primitiva para o surgimento e aperfeiçoamento da vida.

Outro ponto interessante desta passagem é a descrição da localização da origem humana e do jardim criado por Deus no Éden - Gan Eden (Jardim no Éden/ גן עדן). Gan significa jardim mas na tradução Septuaginta é traduzida como paradeisos (paraíso). Devido a esta tradução que temos a associação de "jardim do Éden" com o paraíso. A palavra Eden possivelmente derivou-se da palavra ácade 'edinu', que derivou-se do sumério 'edin'. Em todas aparece com o significado de planície.

A localização do jardim é a leste de onde foi criado o homem. E o Éden (planície) está localizado na região que chamamos hoje de Mesopotâmia e toda a planície ligada a ela. Existem várias hipóteses sobre a localização do jardim no Éden, porém vou citar três delas e argumentar sobre a que acredito ser mais coerente. Baseado no texto contido no verso dez "nele nascia um rio que irrigava o jardim e depois se dividia em quatro" note que o rio que nascia no Éden (não no jardim) irrigava o jardim e só depois se dividia em quatro. O primeiro deles é Pison (Pishon/ פישון) que percorre a terra de Havilá (vHavíláh/ וחוילה), que é filho de Cuxe (Cuche/ כוש). A terra de Havilá é rica em ouro e pedras preciosas e hoje possivelmente é a Arábia ou a Núbia (significa ouro), porém mais provável ser a Arábia devido a localização de Havilá e de lá possivelmente ter sido alvo de extração de ouro pelos egípcios [Gn 10:7 e 25:18]. O segundo é Giom (Zihon/ זיחון) que percorre a terra de Cuxe, pai de Havilá. Os terceiro e quarto são conhecidos e seus nomes são Tigre (Hidekel/ חדקל), que está a leste da Assíria, e Eufrates (Parrat/ פרת). Resumindo o Éden descrito se localiza no que conhecemos hoje pela investigação arqueológica e histórica por Crescente Fértil. O grande mistério que encobre a localização exata do jardim é a incerteza em relação aos dois primeiros rios. É importante sabermos que Moisés falava da localização de um território em uma era anterior a dele com coordenadas de sua época. Possivelmente esses dois primeiros sejam até fósseis de rios hoje. As três hipóteses mais prováveis são:

I )   Que o Pison seja o Mar Vermelho e o Giom o Golfo Pérsico. Sendo assim o jardim estaria submerso no Mar da Arábia. Pensando desta forma temos que, hipoteticamente, pensar que os antigos reconheciam o Mar Vermelho como rio, o que não é verdade. Sabemos que o Mar Vermelho é considerado mar pelo antigos e vemos isso em vários textos.

II )  Que o Golfo Pérsico seja o rio divisor nos quatros rios, onde o Pison e o Giom estão mais a sul. Pensar assim também nos leva a um problema: temos que considerar que eles não consideravam que os rios desaguavam no mar mas que o mar que formava os rios e que o próprio golfo era um super rio.

A mais coerente:

III ) Que o Pison seja um rio a sudoeste do Eufrates que se une a ele e o Tigre antes de desaguar no golfo; e o Giom seja um fóssil de um rio, morto a muito tempo, a leste do Tigre que também se unia aos três antes de desaguar.


Apesar de ser a forma mais coerente da montagem deste quebra-cabeça traz consigo uma peça extra que pode mudar o curso de sua construção. Essa peça é o lugar de habitação dos descendentes de Cuxe que, possivelmente, é a Etiópia. Vemos isso em Isaías 20:3,5 e em Jeremias 46:9 onde a palavra Cuxe que indica os descendentes dele é traduzida com etíopes. A existência destas passagens geram duas possibilidades:

1) Os etíopes nem sempre terem morado na região da Etiópia conhecida hoje.
2) O rio Giom é o Nilo.

Qual a grande questão? Existe fundamentação para as duas. Os gregos chamavam o rio Pison de Ganges e o Giom de Nilo, entretanto a palavra Giom (Zihon) significa 'do oriente' ou 'vem do oriente' o que enfraquece o fato dos gregos estarem falando do mesmo Nilo que banha o Egito, porque este está a ocidente dos outros rios. Em relação a primeira possibilidade existem dois fatos importantes a considerar (considerando que os descendentes de Cuxe sejam os etíopes). Os descendentes de Cuxe habitavam a região da mesopotâmia em Giom, a leste do Tigre, por volta do século XII quando o Gênesis foi compilado. Mais tarde acontece a segunda ascenção do império dos Assírios (povo que habitava na parte norte da mesopotâmia) por volta de 900 a.C. No reinado de Adad-nirari II muito povos foram expulsos, inclusive os arameus, possibilitando um maior controle sobre as rotas comerciais. Assurnasirpal II, neto do Adad-nirari II, décadas depois dominou praticamente todos os pequenos reinos mesopotâmicos e foi considerado o fundador do Império Neo-Assírio. Construiu a cidade de Kalhu, na margem do Tigre, como a nova Capital do império. Esse monarca também foi famoso  pela dispersão em massa dos povos conquistado que, muitas vezes, eram deslocados como mão-de-obra para partes diferentes do império.

Sabemos que os descendentes de Cuxe habitavam a leste do Tigre, às margens do Giom, e que provavelmente não seria construida a capital do império assírio se aqueles povos ainda habitassem ali (por medidas de defesa). Temos então uma luz! Na época da compilação dos textos os descendentes de Cuxe ainda habitavam a leste do Tigre, às margens do Giom, sendo mais tarde expulsos de lá pelos assírios. O império construído em sua segunda ascenção estendeu-se grandemente até o antigo reino sírio e da Palestina (de frente ao deserto de Sur, às portas do Egito), o que, provavelmente, tenha obrigado os arameus a se deslocarem para a Síria do Norte, então região da Síria, e ao descendentes de Cuxe para sudeste do Egito, na atual Etiópia, pois toda mesopotâmia estava ocupada pelo assírios até a Palestina e ao antigo reino sírio, a região da Arábia por Havilá, a leste da mesopotâmia havia o império Persa, e às margens do Nilo o baixo (atual Egito) e o alto Egito (parte da região do atual Sudão).

Outro ponto é que o Golfo Pérsico nem sempre foi como é hoje. Ele já ocupou áreas territoriais bem menores. A 6 mil anos, possivelmente, ocupava apenas metade da área que ocupa hoje, e a 30 mil não havia, praticamente, invasão de águas do Mar da Arábia pelo Estreito de Ormuz. Considerando essas colocações vemos que a hipótese III da localização dos rios Pison e Giom é mais coerente. O Éden, então, é a região desde o Giom, que está a leste do Tigre, no Irã, até próximo ao deserto de Sur, no Golfo de Suez. Temos, pois também, a possível localização do Jardim no Éden como sendo a região atualmente submersa pela ponta do Golfo Pérsico.



Por hora é só. Relativo a terceira curiosidade no começo da postagem (Observou que o homem diz "Esta, sim" referindo-se a mulher que havia sido criada?) deixarei para a próxima postagem. Motivos? Acho que você já descobriu se leu todo o texto. Busquei resumir o máximo que pude do meu estudo para postar aqui, mas ainda ficou muito extenso. Perdoe-me por isso.

Quero agradecer a você que tem acompanhado as postagens e espero que esteja gostando.

Que o Eterno Criador abençoe sua vida e ilumine seus pensamentos. Um grande abraço!

sexta-feira, 22 de março de 2013

No princípio - Parte 4 - Criação e Evolução

Criação ou Evolução?
  


O que fala cada uma delas? Qual delas tem a razão? Se uma tem a razão por que a outra ainda arrebanha seguidores? São pergunta pertinentes em relação a estas teorias e levam nossa mente a "pirar" quando pensamos sobre elas. Mas antes de continuar sua leitura eu te faço duas perguntas: 1) Você é criacionista ou evolucionista? 2) Você tem certeza que vai ler o restante da postagem? Brincadeira!

Eu, particularmente, acredito nas duas teorias. Entendo que elas não são incompatíveis como os seguidores extremistas de ambas dizem. Alguns chegam até a dizer que uma exclui a outra. Acredito que uma explica o que a outra não pode explicar. Exemplo: uma explica as evidências fósseis que mostram a diferenciação nas espécies atuais, já outra explica a 'incrível coincidência' do caminho deste processo.


Antes de começar eu peço que você leia com atenção mais uma vez e se possível continue com a escritura aberta no capítulo 1 do livro de Gênesis. (Recomendo ler na versão NVI)

Ótimo! Agora que você leu quero lhe perguntar se você notou algumas coisas no texto. As perguntas serão apenas pra despertar a sua curiosidade e instigar o seu senso investigativo; depois vamos discutir suas respotas.

1) Percebeu que a palavra 'criou' só é usada em duas situações, na primeira criação (céus e terra) e na última criação (ser humano)?
2) Percebeu que tudo que surgiu depois da primeira criação e antes da última foi "orientado" a existir pela palavra 'haja'?
3) Percebeu que as coisas surgiram de forma crescente em 'grau de complexidade' (luz, água, terra, ervas, árvores, peixes, anfíbios, répteis, aves, animais terrestes, mamíferos e homem)?

Todas são questões que não percebemos quando lemos superficialmente um texto. É como vestibular, se não conseguir extrair todas as ideias que um texto lhe oferece, alguma questão você irá errar. Minha intenção - assim como a de Moisés - não é cientifica. Não pretendo propor um estudo minucioso para fortalecer teoria A ou B; pretendo desmistificar a expressão "se você acredita em Deus não pode acreditar na evolução", vice-versa. 

O próprio texto escrito por Moisés em Gênesis 1, embora não científico, aponta uma questão interessante: Deus só usa a palavra ברא (bará) para o princípio da criação e para a criação do ser humano; e usa a palavra יהי (iêrrí) para as demais coisas. Lembrando que Bará é a palavra usada para definir a criação de algo que não existia antes e que só é usada para criação estritamente divina. Isso nos leva a pensar que as demais coisas criadas com Iêrrí surgiram de algo que Ele já havia criado pelo Bará (confuso?); ou seja, as primeiras coisas foram criadas e as outras foram criadas a partir da matéria das primeiras (abiogênese + biogênese). Quando o universo é criado (Bará) acaba gerando a criação da luz, que gera a criação das trevas (escuridão); e, com a criação primeira, a primeira matéria gera a água, a terra, o sol, a lua e as estrelas. E da matéria que está na terra geram-se as plantas e nas águas geram-se os peixes, que geram os outros animais aquáticos (e anfíbios), que geram os répteis, que geram aves, que geram animais terrestes e os mamiferos, tudo pela ação do 'Iêrrí'. Quando, intrigantemente, Deus usa novamente o bará para criar o ser humano, como se ele fosse criar algo completamente novo, "nós". Não é desmerecendo vocês animaizinhos mas "a gente somos os caras" ( =] ). Somos, na realidade, especialmente diferentes dos outros seres vivos. Não estou mostrando uma prova da evolução, até porque cientificamente não acontece assim; entretanto, mostro que a própria escritura não exclui sua existência, visto que o próprio Deus cria algo a partir do que já havia criado inicialmente, e orienta todo o processo de forma organizada em grau de complexidade, de forma evolutiva.

Por causa da forma de pensar exclusivista, que ambos os lados têm, que surgem os abusos em suas teorias. Vimos na postagem anterior dois exemplos deles com a geração expontânea e com a hipótese do acaso. Por muito tempo uma teoria tentou exterminar a outra desconsiderando tópicos notáveis de ambas. Hoje o criacionismo luta contra o evolucionismo pelo fato dele excluir a personalidade divina como atuante no processo de formação da vida; e na contramão, pelo fato do criacionismo dizer que tudo foi criado do nada. O interessante é que por mais improvável que seja o acaso para a evolução de uma espécie, e por mais fechada e inexplicável que seja a geração a partir do nada de um animal, seus seguidores ainda lutam entre si como se fosse uma luta épica entre o bem e o mal.

Segundo o argumento teleológico para algo ter uma finalidade deve existir uma razão ou lei que reja sua existência. Se algo foi criado existiu algo que o criou, se algo foi evoluído existiu algo que o evoluiu. Henry Quastler calculou a probabilidade de execução do acaso ao criar proteínas organizadas necessárias a vida e chegou a potência aproximada de 10 a -255 publicando no seu livro 'O Surgimento da Organização Biológica'. Mais tarde Michel Denton, em seu livro 'Evolução: uma teoria em crise', fruto da sua pesquisa que o levou ao seu PhD em bioquímica, comenta: "Obter uma célula por acaso necessitaria de pelo menos cem proteínas funcionais que apareceriam simultaneamente num só lugar. Isto equivale a cem acontecimentos simultâneos, cada um com uma probabilidade independente que dificilmente pudesse ser superior a 10 –20 , o que dá uma probabilidade máxima combinada de 10 –2000 ." Denton é evolucionista e foi um dos defensores da hipótese do 'desenhista inteligente'. Ele propos uma teoria evolutiva conhecida como "evolução dirigida" que entende a evolução não como algo ao acaso mas algo planejado. Richard Dawkins, zoólogo, etólogo e evolucionista escreve em seu livro "A necessidade do Darwinismo" o seguinte texto: "Quanto mais estatisticamente improvável é uma coisa, mas nos custa crer que ocorreu por cego acaso. Superficialmente, a alternativa óbvia para o acaso é um Desenhista Inteligente." 

Portanto, esse sentimento que ainda hoje nos rodeia de sutentar nossas ideias custe o que custar, de não entender o que é claro a nós, que nos faz lutar uns contra os outros disputando as migalhas do conhecimento da vida e de seu surgimento. Estes homens pensam a frente do seu tempo quando deixam de lado o que as massas cegas dizem de suas teorias e se colocam como investigadores de seus próprios absurdos.

O extremismo é mortal para o crescimento do conhecimento. Ele nos impede de ouvir o diferente e de aceitar o óbvio. Desejo que Deus abençoe as nossas mentes com a sua sabedoria e discernimento necessário para entender alguns mistérios do universo e da vida.

Nas próximas postagens vamos falar sobre os capítulos 2 e 3 de Gênesis e comentar sobre assuntos polêmicos sobre estes capítulos. Agradeço a atenção e o interesse de vocês, e os espero nas próximas publicações!

Abraço a todos! 

quinta-feira, 14 de março de 2013

No Princípio - Parte 3 - Criação e Evolução

Criação e Evolução


Introduzindo o assunto quero fazer menção a alguns tópicos importantes, além daqueles que já compartilhei na parte 1 desta série:

I) Antes de expor sua opiniao contrária a alguma coisa leia, pesquise, observe ou experimente algo sobre o assunto em questão.
II) Não compartilhe da ignorância do negar algo que não se conhece; muitos já fazem isto. Lembre-se de não extinguir o Espírito e não desprezar as profecias; mas, lembre-se também de examinar tudo e reter o bem.
III) O tema em questão é muito extenso; buscarei ser claro mas não poderei ser tão profundo. Qualquer dúvida que tiver, se puder ser esclarecida, será.


Aparentemente, estas duas teorias se contradizem, mas tenho uma visão diferente sobre este impasse: não são as teorias que se contradizem mas as pessoas. As pessoas quando estão cegas por seus conhecimentos costumam negar 'tudo' que aparentemente não confirma suas ideias. Por essa e outras razões somos levados a pensar, ignorantemente, ou você é criacionista ou evolucionista, e acreditando em uma somos levados a excluir a outra. Acho que por algum propósito Deus me isentou desta escolha podendo hoje estar com meu entendimento iluminado por sua revelação. Agradeço a Deus por enviar seu anjo para me guardar; e em forma de gratidão revelo o que entendi graças a Ele.


Era Sombria das Teorias

Geração Espontânea da Abiogênese

A abiogênese não é uma teoria que vai contra a biogênese apenas porque tem o prefixo 'a' na palavra. Cientificamente a abiogênese começou a 4,4 bilhões de anos, aproximandamente, quando o vapor de água condensou-se pela primeira vez. Abiogênese quer dizer 'origem não biológica' ou o estudo da origem da vida por algo não vivo (matéria). Um dos primeiros a defender esta teoria foi Anaximandro e o mais famoso foi Aristóteles. Entretanto, não vamos nos deter nestes, mas em outros que também formularam suas ideias em uma vertente um tanto estranha da teoria da Abiogênese, a Geração Espontânea.

A teoria da geração espontânea defendia que vida era gerada de matéria inanimada e de corpos em estado de putrefação. Os defensores desta vertente afirmavam que a solução nutritiva continha um 'força vital' que era responsável pelo surgimento de forças vivas. Um cadáver, por exemplo, possuia a força vital necessária para gerar larvas em dois dias para decompor a matéria nutritiva contida neles. O milho e o feno molhados dentro de um celeiro possuiam força vital para gerarem filhotes de camundongos em vinte e um dias, que cresceriam e se alimentariam deles. Isso acontecia porque não existia um método de observação criteriosa para analisar o porquê da aparição destas formas de vida naquelas soluções nutritivas. No século XVII, o Sir Thomas Browne tinha dúvidas se 'camudongos podiam nascer da putrefação', então Alexander Ross o responde:

"Então pode ele duvidar se do queijo ou da madeira se originam vermes; (...). Questionar isso é questionar a razão, senso e experiência. Se ele duvida que vá ao Egito, e lá ele irá encontrar campos cheios de camundongos, prole da lama do Nilo, para a grande calamidade dos habitantes."

Isso se deu pela falta de metodologia apropriada, excluindo etapas importantes para as experiências feitas, como impedir que as moscas pousassem no cadáver, ou, que os ratos já formados tivessem acesso ao milho e o feno. O primeiro passo para a refutação da geração espontânea foi do italiano Francesco Redi, que provou que larvas não nasciam em carne que não permitia o contato das moscas por telas colocadas no recipientes, não permitindo que elas colocassem seus ovos. Depois disto Redi se pronuncia e escreve sobre a geração espontânea:

"Embora me sinta feliz em ser corrigido por alguém mais sábio do que eu caso faça afirmações errôneas, devo expressar minha convicção de que a Terra, depois de ter produzido as primeiras plantas e animais, por ordem do Supremo e Onipotente Criador, nunca mais produziu nenhum tipo de planta ou animal, quer perfeito ou imperfeito (...)"

Desta forma é derrubada a hipótese da geração espontânea. Mas ela volta e com força total com as descoberta dos micro-organismos com a frase "os organismos macroscópicos não são gerados a partir da matéria, mas os microscópicos surgem pela geração espontânea". Por quase 200 anos esta hipótese ainda teve força, mas a figura científica de Louis Pasteur aparece com um experimento refutando definitivamente esta hipótese.

Esta foi a era sombria do criacionismo, e muito do pré-conceito e preconceito sofrido por esta teoria descende desta era. Hoje o criacionismo não é tratado de forma irresponsável como antes, seus representantes são sérios e buscam evidências claras para suas teorias.

A Hipótese do Acaso

Foi pela exigência do método científico de não ter algo externo, ou alguém que influencie na experimentação ou observação de um fato científico que surgiu uma das maiores chagas da teoria evolutiva, o acaso. O interessante é que o próprio acaso contradiz o que entende por método científico, o qual busca explicar algo através de uma série de etapas, pois o seu significado exprime algo sem motivo e sem "explicação" aparente; ou seja, em busca de não atribuir a alguém ou algo os fatos científicos estudados atribuimos ao que não explica e não pode ser estudado.

O grande problema é como explicar as combinações de mutações pelo acaso. Hoje são testadas muitas simulações em super-computadores buscando evidências e combinações que levem ao entendimento da agregação das mutações ao material genético de uma determinada população. A pouco tempo uma destas simulações trouxe dados interessantes porém intrigantes. Cada base do material genético (A, T, C e G para o DNA; e A, U, C e G para RNA) é codificado com um código de oito bytes onde cada byte possui oito bits. A probabilidade calculada para cada bit mutável é de aproximadamente 1%, então, pensemos em um organismo com gene de apenas um códon no seu material genético, então ele possui três bases nitrogenadas, que representam 24 bytes ou 192 bits, corrigindo a probabilidade de mutação de um bit específico para aproximadamente 0.005%, da base para 0,0035% e de todo o gene para 0,0012% (sem levar em consideração os hostpots que são lugares do material genético onde as mutações acontecem a uma taxa de quase cem vezes maior que a normal). Observamos então que uma mutação é algo raro e mais ainda para ser bem-sucedida, gerando uma característica que beneficie o organismo, pois em sua maioria são deletérias. Baseando as afirmações acima apenas no acaso não sabemos como se dá as mutações e nem porque se dá, torna-se apenas um probalidade que 'coincidentemente' fez questão de dar certo a 4 bilhões de anos atrás e faz questão de desandar no último bilhão de anos.

Alguns já consideram a hipótese de um 'designer inteligente' como algo que influenciou esta probabilidade de eventos para que estes se concretizassem. Pensar desta forma começa a ser, provavelmente, uma futura resposta para a pergunta "por que evoluir", porém não é muito aceita pela comunidade científica pelo de fato de não poder ser observado, caso igual ao do aceito 'acaso'.


Por hora é só. Na próxima publicação continuarei falando das duas teorias e faremos conexão das duas. Esta publicação foi importante para notearmos a Parte 4 e esclarecer estas curiosidades. Desejo que tenha entendido tudo acerca do que postei, e se não entendeu algo ou quer acrescentar/questionar fique à vontade para comentar. Convido também a seguir pelo email o blog, o link fica aí do lado. Fazendo isso você receberá um recado quando tiver postagens ou respostas aos seus comentários no seu email. Até a próxima publicação!

Um abraço a todos.

segunda-feira, 11 de março de 2013

No Princípio - Parte 2 - Genesis

 Genesis

  
בראשית ברא אלוהים את השמים ואת הארץ
(Bereshit bará Elohim et hashamaím vêet haárets)
                                             
Olá amigos. Mais uma postagem sobre este tema. Hoje quero divulgar algumas curiosidades da língua hebráica e de sua cultura, e falar um pouco sobre a transliteração e suas dificuldades. Antes de começar quero lhe desejar um bom dia, uma boa leitura, agradecer por estar lendo meus estudos e desejar que a Graça se manisfeste a cada dia em sua vida.

Então, vamos nessa!

Este texto que pus nesta postagem é "No princípio criou Deus os céus e a terra"; sua escrita em hebráico e sua pronúncia abaixo. Lembrando que se lê no sentido contrário do nosso idioma; e, não tenho como colocar o "nekudot" ou sinais massoréticos - pontinhos ao lado, encima e embaixo das consoantes que dão a ideia das 'vogais' no hebráico - porque a formatação da fonte necessária não é aceita pelo blog.

Transliterar é como mapear um sistema idiomático em outro. É identificar os elementos e seus significados em uma língua e relacionar com os de outra. Por exemplo, apple é maçã na língua inglesa. E isso pode ser resolvido de uma forma simples, um ingles pega a fruta e diz: - Apple. Eu olho pra ele com a fruta na mão e retruco: - Maçã. Resolvido. Mas existem palavras em um idioma que não expressam apenas um simples objeto, mas se relacionam com alguma ideia ou expressão. Imagine como traduzir a expressão "vixe" para o inglês, ou a ideia "cabra macho" para o hebraico. Posso até traduzir as palavras individualmente, mas o significado que cabra tem isolada de macho é totaltemente diferente delas juntas. Portanto, a transliteração não é um simples ato de traduzir palavras, mas de buscar significados semelhantes entre os dois idiomas.

A palavra בראשית (bereshit) - que traduzimos como 'no princípio' - é uma destas palavras que expressam uma ideia e não um objeto. Para entender a ideia de bereshit temos que entender o nome usado para Deus logo após, אלוהים (Elohim). Como já havia comentado na postagem anterior este nome é uma espécie de abreviação (substituição) do nome יהוה אלהים (Yahoh Ulhim), que significa "Criador Eterno". A palavra Ulhim é como um título da eternidade - 'aquele que era, que é e que será para todo sempre' - e estabelece uma das mais fortes ideias sobre a pessoa de Deus. Desta forma algo que foi criado primeiro existe por que existia já alguém antes para o criar; sendo essa ideia que a palavra bereshit passa com o seu significado: no momento que se fez para existir as primeiras coisas. Se formos usar na transliteração o significado em vez de uma palavra que se aproxime dele, teríamos uma tradução muito próxima do que seu significado quer dizer, porém, muito extensa e complexa. Por esse motivo substituimos o significado exato de uma ideia por uma palavra de significado semelhante em nosso idioma, no caso, princípio, que quer dizer causa primária, momento, local ou trecho em que algo tem sua origem. Então em vez de 'No momento que se fez para existir as primeiras coisas foi criado pelo Criador Eterno os céus e a terra', temos 'No princípio criou Deus os céus e a terra'.

Outra coisa interessante no idioma hebráico é que a ação de criar primariamente é exclusiva a Deus, ou seja, Ele cria e o humano apenas transforma algo aquilo que foi criado. É uma maneira interessante de se ver porque é uma verdade. Nós não criamos o aço inoxidável, apenas combinamos proporções de ferro, carbono, níquel e cromo em uma liga metálica. Não criamos uma formúla molecular de um remédio, mas tratamos quimicamente compostos que através destas reações unem seus atómos na disposição que queremos. Não criamos novos elementos químicos, mas bombardeamos seus núcleos com partículas menores forçando-os a buscar um equílibrio controlados pelos cálculo feitos previamente; e nem estas partículas. Resumindo, o que criamos, enfim? Realmente nada. Uma forma interessante de ver a dos hebreus. Porém, como reformar o nosso idioma para se adequar a uma ideia destas? Não dá! E também não é errado o fato de considerarmos que criamos algo, são palavras e significados apenas, não muda a essência do universo, a que só transformamos as coisas. A palavra ברא (bará) define uma criação genuína, de algo que nunca existiu e começou a existir, algo único; diferente do verbo ליצור (lits'or/criar) que tem como sinônimo לשנות (leshanoht/transformar). 

Concluindo, os hebreus diferenciavam a criação divina (genuína) da criação natural (transformação da matéria). No próximo post vamos discutir sobre duas teorias, criacionista e evolucionista, e desmitificaremos alguns tabus que separam estas duas teorias.

Muito obrigado pela sua atenção, e até a próxima.

Um grande abraço!

quarta-feira, 6 de março de 2013

No Princípio - Parte 1 - Considerações Iniciais

No princípio criou Deus, os céus e a terra

Nada mais conveniente que o primeiro assunto do blog ser o princípio de tudo. Entretanto, antes de começar a postar sobre este assunto, quero elucidar algumas situações importantes:

I) Nem tudo o que eu escreverei será aceito de imediato, e nem precisa ser, peço apenas que filtre o que você acha importante e tome para si.
II) Talvez algumas palavras que você verá aqui estejam diferentes de sua versão escrita. A explicação é simples, estarei estudando a etimologia da palavra pelo idioma nativo dos escritos, o hebráico/aramáico. Recomendo que estude um pouco também, se faz necessário.
III) Toda análise exegética de um texto deve ser feita baseada na história, contexto e cultura da nação, região ou época. Não faremos diferente.
IV) Por ser um assunto muito extenso e complexo, algumas coisas serão resumidas, quando eu julgar serem de senso comum.
V) A busca pelo conhecimento não precisa anular suas crenças. Não desmereça a Graça usando como base o conhecimento. Os dois podem andar juntos na mente de uma pessoa sábia.
VI) Nunca esqueça que mesmo que você tenha o dom de um profeta, ou o conhecimento dos mistérios e de toda a ciência, ou até mesmo uma fé que lhe conceda poderes de revover montanhas de seus lugares, se você não tiver o amor, não serve para nada. No fim o amor é maior que tudo.

Espero que em toda a série de estudos postada no blog você nunca esqueça destes pontos, principalmente, dos pontos V e VI.

Comecemos então. Primeiramente, quero lhe dizer que o livro de Gênesis (Bereshit/ ראשית) é um livro histórico, porém não se resume apenas em uma narrativa descritiva de fatos, mas é um livro repleto de texto semelhantes aos poemas de hoje. O próprio texto em que eu comecei essa publicação é um verso de um destes poemas. Mas por que Moisés (Mosheh/ משה) escreveria algo tão importante em forma de poema? Antes de discutirmos a resposta para esta questão, responda-me esta outra questão: seria mais fácil para você memorizar uma grande teoria complexa ou um pequeno texto em forma de poema? Claro que um texto simples em versos. Poderia ser feita até uma música com eles.

A intenção de Mosheh ao escrever os textos sobre a criação não era descritiva, ou seja, a de mostrar como aconteceu em seus detalhes, ações e eras. Também não foi científica, apesar de ser conhecedor da ciência egípcia por ter sido educado como príncipe e neto do faraó. Sua intenção era simples, fazer com que o povo entendesse que tudo foi criado pela vontade de Deus (Yahoh/ Yahovah/ יהוה), também chamado por outros nomes quando queriam enaltecer uma de suas características ou devido ao cuidado dos hebreus com o seu nome verdadeiro. Mosheh chama Deus nesse momento de (Elohim/ אלוהים) que é um espécie de abreviação das primeiras citações do nome Yahoh Ulhim (lê-se iárro úlrrim e escreve-se יהוה אלהים), o "Criador Eterno". É óbvio que a preocupação principal desse texto não é esclarecer como foi a criação do universo e tudo que nele existe, mas relacionar este fenômeno com uma personalidade criadora, ou seja, alguém criou. Então se a narrativa da criação não é uma descrição dos fatos, o que é? Uma metáfora? Uma parábola como as que Jesus (Yahoshua/ יהושע) contava? Não. As parábolas propostas por Jesus visavam ensinar seus discípulos através de uma espécie de conto figurativo com personagens que não existiram, necessariamente; porém, Moisés visou ensinar, de forma analógica e figurativa, sobre coisas que existiam e foram criadas por um Deus que existe - o conhecimento científico era limitado até para os grandes mestres das ciências naquela época.



Esta primeira publicação é mais elucidativa que aprofundada. Está aqui para direcionar as próximas e facilitar o entendimento das demais passagens dos escritos que vamos discutir. Quanto aos nomes em hebráico lemos da direita para esquerda (contrário na nossa língua), e sempre colocarei os caracteres e pronuncia no idioma original. Nas próximas publicações veremos a exegese de textos, curiosidades e tópicos importantes sobre este tema.

Se houver alguma dúvida, ou algo a comentar, fique à vontade. Até as próximas publicações.

Um abraço a todos.